Se eu fosse Grego
A minha opinião pode ter mudado.

Se fosse Grego, e tivesse que decidir o meu voto no referendo do próximo domingo, o que faria?
A verdade é que não sei e dou graças a Deus, por neste momento, não ser Grego.
Mas sei que o que os Gregos estão a passar agora será aquilo que nós Portugueses podemos passar daqui a uns meses… ou semanas…
A Grécia deveria pagar 1.6 mil milhões de euros ao FMI. Deveria também receber a ultima tranche da ajuda de 7 mil milhões de euros. Destes, praticamente nada entraria no país já que serviria para pagar… a bancos franceses e alemães1.
Desde 2010 a economia da Grécia caiu 25%. É verdade que os Gregos não têm ninguém a não ser d’eles mesmos de quem se queixar. Andaram - tal como nós - anos a viver acima das possibilidades, com fuga aos impostos e improdutividade tal que chegaram ao ponto de não retorno e tiveram que pedir dinheiro.
Mas as condições impostas pela troika nos últimos 5 anos resultaram em quê? Previsões falhadas que deveriam envergonhar o caloiro economista acabado de sair da faculdade. Desespero, desemprego, depressão - um aumento de 35% de suicídios nos últimos 5 anos - e um aumento de 150% na prostituição2, são estes os números que a troika tem para apresentar.
Sem moeda própria para poder controlar, nem sequer com capacidade de imprimir dinheiro e desvalorizar o mesmo nesta altura, não há muito que os Gregos possam fazer. O Euro chegou com um presente envenenado para a Grécia, e para todos nós: o fim da soberania nacional. Não por acaso, os suecos disseram não ao Euro em referendo.
Voltemos à Grécia… 75% da sua economia é interna3, pelo que uma eventual saída do Euro, embora dolorosa, não será catastrófica. Os restantes 25% da economia são efeitos do turismo que só beneficiará de uma moeda barata. Claro que a importação de alguns bens essenciais será mais cara, mas os Gregos estariam em condições de crescer economicamente, o que não acontecerá nos próximos anos com o Euro, seja com a troika ou sem troika.
Uma palavra final para os mercados. As dívidas publicas soberanas passaram a ser, nos últimos anos, uma forma rápida de foder os povos. Krugman perguntava há uns dias se o FMI sabia o que estava a fazer (no caso da Grécia) e responsabilizava-os directamente por uma possível saída da Grécia da eurozona. A verdade é que o falhanço da Grécia, não é um falhanço dos Gregos. É primariamente um falhanço do Euro como moeda e como ideologia. E, no limite, os Gregos recuperavam a sua soberania o que lhes pode permitir sonhar com crescimento. Que é um pouco mais que podemos dizer de nós próprios.
Se eu fosse Grego, se calhar, no domingo votava não, mas para isso é preciso tê-los no sítio e estar preparado para cair (ainda) mais.