Histórias de um nascimento...
A minha opinião pode ter mudado.
Há dois anos, quando o Hugo nasceu, ainda não tinha blog. Há histórias desse dia que mereciam ser contadas… Mas este post não é sobre o nascimento do Hugo. É sobre o dia do nascimento da irmã, Helena. Como eu, ele e a mãe passamos o dia. Cada um de nós com as suas tarefas e suas responsabilidades.
[O texto que se segue é bastante extenso e acredito que tenha pouco interesse para muitos dos visitantes anónimos deste blog. Serve essencialmente como um relato histórico do dia 06/Agosto e como tributo à mãe do casal que tenho em casa!]
Chegamos à Clipóvoa ainda não eram 09h00m. A perspectiva era de que podia nascer na segunda, dia 06 ou na quarta-feira dia 08. A experiência (se é que podemos falar em experiência quando temos um filho e estamos a preparar o nascimento do segundo) dizia-nos que o mais certo era regressar para casa e voltar dois dias depois.
Desta vez engana-mo-nos… Ou fomos bem enganados. :)
Perto das 10h00m a confirmação: nasce hoje!
Toda a preparação para um dia de trabalho (quase) normal foi por água abaixo. Mas nada que não soubéssemos que podia acontecer. E aconteceu.
Depois de avisadas as pessoas que precisavam de ser avisadas, começamos a preparação mental para aquilo que nos esperava. A primeira coisa a fazer foi colocar todos os telemóveis em silêncio absoluto. Nem sequer a vibração escapou. Não queríamos ser incomodados. E não fomos!
A Filipa entrou na sala de dilatação e começou o seu trabalho. Umas injecções daqui, umas medições dali. Tira sangue daqui, mede a tensão dali… Eu e o Hugo (sim, o Hugo esteve comigo [quase] todo o tempo) apenas tentávamos arranjar maneiras inteligentes de matar as horas. Começamos por ver o Noddy na TV na mesma sala onde começavam as primeiras dores. Depois, fomos, eu e ele, dar uma volta. Depois, mais um pouco de TV. Almoço para ambos no café da esquina. Uma sopinha para ele. Uma tosta mista e um Compal para mim. Infelizmente a sopa estava intragável e não havia forma de o convencer a comer aquilo tudo. Comeu metade. Dadas as circunstâncias, foi um feito. Bebeu o meu Compal quase todo… “Suminho”, dizia ele… :)
De volta ao quarto, encontramos a mãe já com a epidural (ver aqui e aqui). Em vez de esgares de dor, encontramos sorrisos e boa disposição. Óptimo, pensei. Tudo a decorrer conforme o plano.
De repente, acontece o que não estávamos à espera. O Hugo começou a ficar chatinho. Era o sono a atacar a toda a força. Havia agora duas soluções: ir para o quarto e tentar adormecê-lo num quarto estranho ou ir para o carro, fazer uns quilómetros e aguardar que este fizesse a sua magia. Optei pela segunda. O resultado foi o esperado. Em menos de 3 minutos estava a dormir. Restava-me agora procurar uma sombra e tentar que o carro não aquecesse muito com a temperatura exterior. Eram 13h52m.
Aproveitei para despachar os poucos assuntos pendentes e verifiquei, se calhar pela primeira vez, o jeito que faz uma placa 3G. Não que fosse necessário. Uma rede wireless chamada HENRIQUE1
estava completamente aberta. Sim, tentei ligar-me, consegui IP e ligação à Internet sem problemas. Optei por usar a placa por uma questão de privacidade na ligação à rede VPN da empresa.
Mais de duas horas depois, o Hugo acordou. E logo com um problema técnico para resolver. A fralda encheu e transbordou. O liquido acabou por passar para as calças. A camisola, estava também ela encharcada, mas de suor. Felizmente um pai preparado vale por três. E eu sou um pai preparado. :)
Mudado o rapaz, encontramos o avô antes de re-entrarmos no Hospital. A avó já estava com a mamã há quase 1 hora.
De volta ao conforto da sala, nova ronda da Dra. Ana: “Lá para as 6”, dizia ela à enfermeira. Ainda não eram 4 horas. Dá para o Hugo lanchar e vermos um pouco mais de TV. Entretanto chega o avô e vão os três (o avô, a avó e o Hugo) lanchar. Ou passear. Ou fazer sei lá o quê. Só sei que quando devolveram o rapaz vinha sem fralda e com meio pão na mão.
Depois de uma passagem rápida pelo refeitório do Hospital, verifico que a mamã já não estava no quarto em que a deixei. Entro no novo quarto e verifico que está (quase) tudo pronto. Este não era um quarto normal. Era o quarto. Faltam apenas as doutoras. Enfermeiras e pessoal de apoio, estão já a postos. É aqui que tenho que deixar o Hugo com os avós. Um misto de excitação pela chegada do momento esperado e de tristeza por ter de o abandonar. Eram 17h00m.
Chegam as doutoras, a Filipa queixa-se de dores. Não era suposto. Depois de um olhar rápido, diz a Dra. Ana: “Força, está quase”. Foi neste momento que pensei: “Mas isto não era só para as 18h?”. Não seja por isso, eu por mim estou preparado… Umas queixas de dor (sim, aquilo não foram gritos), uns puxões e a rapariga está cá fora. Perfeita. Eram 17h10m.
“Não choras rapariga?”, pergunta a mãe. Nesse preciso momento a Helena começa a chorar. Bem, a tentar chorar, já que aquilo não é choro que se apresente.
“3120 gramas e 49,5 cm”, diz a pediatra. “Vou só dar uma vacina…”. Mais umas medições e auscultações, mas tudo de forma ordeira e muito calma. “Está tudo muito bem!”.
“Sim, pensas tu… Ninguém olha para mim? Estou aqui meio aflito e devo estar mais branco que a cal. Não há por aí um copo de água? Será que se eu me sentar aqui nesta poltrona alguém repara em mim?”. Sim, sou eu! Mesmo no segundo filho, as coisas são “complicadas”. Mas tenho o mérito de ter tido a coragem de ter estado lá! Quantos de vocês podem dizer a mesma coisa?
Uns 20 minutos depois, já estou recomposto, a menina já está vestida e a mãe já está em recuperação. Aparece o campeão à porta. A Dra. Ana pega na menina e diz que, também ele, tem direito a ver a irmã. Não podia estar mais de acordo. Precipito-me para a porta e pego no Hugo ao colo. Chega a Dra. com a Helena e pego nela também. Ainda vinha a chorar. Ou a tentar chorar.
A reação do Hugo não podia ser mais inesperada: “Que se passa bebé?” , disse ele com a voz de quem tem apenas 2 anos. Envergonhado por tamanha proeza, esconde a sua face no meu pescoço. Dá-me um beijo. Coloco-o à vontade e digo-lhe para dar um beijo à mana. Não se deixa intimidar e fá-lo sem problemas. Depois de mais uns segundos devolvo a menina à Dra. e fico com o campeão. Sou, neste momento, um pai orgulhoso!
O resto do dia, foi normal. Telefonemas para a família mais chegada, SMSs para todos os outros. Os telemóveis continuavam no mais obscuro silêncio. As tentativas de contacto de alguns mais ousados sucediam-se. Sem sucesso. Os SMS de parabéns começaram a chegar em catadupa aos três telemóveis. Foram sendo lidos de quando em vez.
Visitas, apenas a da família. Eu e a Filipa, preferimos assim e agradecemos.
Infelizmente o dia teve que terminar. Estava na hora de, eu e o Hugo, regressarmos a casa. Eram 22h30m quando entramos em casa. Ele a dormir. Eu esgotado… Sou pai pela segunda vez. Parabéns à mãe fantástica!